LUCINA - NAVE EM MOVIMENTO - a música artesanal de Luli e Lucina
13 videos • 1,976 views • by Lucina Compositora Oficial Sobre o novo álbum de Lucina por Zélia Duncan NAVE EM MOVIMENTO – a música artesanal de Luli e Lucina Você está diante de um álbum raro e especialmente recheado de significados, resultado de um caminho onde cada passo foi pisado com força e acompanhado de muita música. Os tambores e a voz humana são abre-alas, como não poderia deixar de ser. Luli e Lucina estão presentes aqui. Deixaram de ser uma dupla há tempos, mas foram parceiras musicais até o depois, até agora, posto que Luli partiu há alguns anos, mas deixou uma vasta obra viva, gerada por esse encontro. Estas 13 canções foram escolhidas e pinçadas em meio a mil outras, literalmente. As duas mulheres-cantoras-compositoras, bateram tantos tambores e cordas de violão juntas, que ficaram uma na outra, de forma indelével. A voz límpida e poderosa de Lucina, somada ainda aos seus vocais, comprovam facilmente a tese de que dentro de uma, a outra brilha. As palavras aqui são degustadas, as melodias têm brasilidade profunda em meio aos silêncios tão bem colhidos. Essa mistura de “gueto com mato, quilombo e paixão”, emocionará até aos já apaixonados e fieis ouvintes. As faixas têm surpresas. Os arranjos vão caindo como gotas suaves nos ouvidos. Como células boas, que dão sentido umas às outras. É tudo um. É tudo uma e outra. É tudo a dupla. Uma partitura de delicadezas e forças que e revezam nas mãos dos músicos que compõem com Lucina este momento de reencontrar Luli. A canção mais recente é de 2018. A mais antiga é de 1971. O arco do tempo é comprido, a sonoridade faz a ponte. A produção musical de Patrícia Ferraz, a serviço do repertório, optou por toda essa delicadeza musical. A escolha dos músicos foi certeira, no estilo “músicos que falam”, dizem coisas com notas, completamente conectados aos assuntos e climas. Alguns deles contribuem com esta vasta obra há tempos, como o virtuoso e sensível Ney Marques, que empunha mandolim e guitarra, com performances sempre marcantes, como na doce “Tocandar, Toca A Viajar”. Outro fiel escudeiro da sonoridade é Décio Gioielli, com seus singulares instrumentos, kalimba e flauta africana. O acordeom de Marcelo Caldi conversa e comenta o que a voz canta em “Luta É Dia A Dia” com extrema sensibilidade. O fagote de Elione Medeiros, que sopra na introdução da bela “Banquete”, entrega ventos quase eruditos, confirmados ao soar do surpreendente piano de Otávio Ortega. Contrabaixo acústico fica a cargo de Bruno Aguilar e o baixo elétrico de Marcelo Dworecki. Gustavo Cabelo e Maurício Cajueiro participam com suas guitarras e Jaime Alem assina o violão sobre o desenho do baixo de Jorge Mathias. Na bateria, Curumin Tanaca e Walace Cardia apresentam suas participações. Só dois parceiros de composição aparecem, eles que sempre estiveram perto, o inspirado Joãozinho Gomes em “Misturada Cabana” uma oração para o povo negro, cultura mais potente da nossa mistura e Mario Avellar, em “Na Noite de um Amanhã”, que dá vontade de nunca parar de ouvir. O cello de Peri Pane nos atravessa, como o poema escrito e falado pelo comovente poeta arrudA. Os vocais de Julia Borges em “Na Primeira Brisa” sopram uma ternura no ambiente, um DNA irresistível, que nos bota no colo desse clã, desse ninho de vida e música. Esta privilegiada escriba, participa em dois momentos. Na faixa 9.16, recito o texto de Luli e na faixa Barra Leblon tenho a alegria emocionada de cantar com Lucina, parceira de muitas canções. A dupla sempre esteve entre os sons que me formaram. A voz plena de Lucina traz em muitos momentos no seu bojo, a voz de Luli em meio aos agudos e inflexões. Quem for familiarizado com a obra vai se inquietar também com esse detalhe. A sensação de poder ouvir as duas, por conta das canções tão misturadas no momento da criação, é um dos tantos trunfos desse registro. Um álbum assim, fresquinho, pra esse mundo surrado, um bálsamo para curar saudade com a nostalgia do novo. Falar da terra, do destino dos indígenas, da nave da vida que leva tudo, dos amigos, rastrear belezas no tempo e sempre o amor, é especialidade da casa. Tudo com uma personalidade que atravessa as décadas e vai atravessar todos os rios, onde as margens desaguem nos nossos ouvidos.